Câncer de Rim – terapia oral pós-operatória
O câncer de rim é conhecido por ser refratário a maioria dos tratamentos oncológicos. Durante décadas, múltiplos estudos com diferentes combinações de quimioterapia e radioterapia, falharam em demonstrar resultados com este tipo de tumor. Apenas resultados modestos com imunoterapia, usando agentes como interferon e interleucinas, foram reportados até década de 90.
Na década passada, foram desenvolvidos inibidores de tirosina quinase direcionados a vias metabólicas importantes na gênese do câncer renal. Essa descoberta gerou uma revolução no tratamento destes tumores. O principal destes agentes, denominado Sunitinib, tem como ação o bloqueio de receptores de fator de crescimento endotelial (VEGF).
Em pesquisas com pacientes metastáticos esta medicação demonstrou melhora na sobrevida livre de progressão de doença. Traduzindo, este agente conseguiu controlar a doença elevando o tempo que ela levaria para produzir mais metástases.
Cirurgia para o Câncer de Rim avançado
Devido aos fatores previamente delineados, o tratamento cirúrgico para o câncer de rim é considerado o padrão. Deixando de lado aspectos técnicos, a condição fundamental é a retirada do tumor. Em casos avançados pode ser necessário a retirada de todos o rim, órgãos próximos e gânglios linfáticos. Mesmo em casos de tumor dentro de vasos, a retirada do mesmo está associada a chance de cura.
Apesar de ser a melhor arma que temos a nefrectomia radical (como é chamada a retirada do rim) não é capaz de tratar micro metástases. Sabemos que um grupo de pacientes com tumores avançados já apresenta tumor à distância no momento do tratamento inicial. É este grupo que se beneficia de tratamento sistêmico peri-operatório.
Estudo S-TRAC e adjuvância para câncer de rim
O estudo S-TRAC, publicado no periódico New England Journal of Medicine por Ravaud e colaboradores, foi o primeiro a demonstrar resultados de pacientes tratados ainda em fase curativa do câncer de rim. Isso ocorre dez anos após a publicação dos dados em doença metastática. Neste estudo 615 pacientes com tumores renais localmente avançados retirados completamente por meio de cirurgia, foram separados em 2 grupos. O primeiro grupo recebeu sunitinib por 12 meses, enquanto o segundo grupo recebeu pílulas sem a droga (placebo).
Após 5.4 anos de acompanhamento, os autores demonstraram sobrevida livre de doença maior em pacientes que receberam a medicação (6.8 anos versus 5.6 anos, p=0.03). Quando analisados em intervalo de 5 anos, a proporção pacientes livre de doença no grupo que recebeu a medicação foi de 59.3% contra 51.3% no grupo placebo. Isso significa uma elevação de cerca de 8% na chance de cura destes pacientes.
Este estudo apresenta dados importantes, e deve ser visto como uma divisor de águas no tratamento dos tumores renais localmente avançados.
Fonte e maiores informações: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1611406