A próstata é uma glândula composta por diversos tipos de células que são responsáveis pela produção de hormônios e substâncias que compõem o líquido seminal (que carrega os espermatozoides durante a ejaculação). Além disso, é composta também por células musculares, que exercem função no controle urinário.
O peso normal da glândula varia em torno de 20g, e suas medidas em torno de 3 a 4cm de comprimento, 4cm de largura e 2cm de profundidade. Existem várias formas de dividir a próstata, a mais importante separa a glândula em 3 zonas: a zona transição, que é o sitio primário da hiperplasia prostática, mais conhecida como aumento benigno da próstata; a zona central e a zona periférica, onde se localizam 75% dos tumores malignos da glândula.
Logo abaixo da próstata ficam as vesículas seminais e os ductos deferentes. As vesículas seminais produzem a maior parte do líquido seminal, que será carregado para a uretra através dos ductos ejaculatórios. Os ductos deferentes são longos canais que vêm do testículo, trazendo os espermatozoides. Estes ductos são os mesmos seccionados durante a vasectomia, conhecido método de esterilização masculina.
A próstata fica situada na pelve, entre a bexiga e a uretra. Acima da glândula encontra-se a sínfise púbica e mais profundamente está o reto. É esta íntima relação com o reto que permite a avaliação através do toque retal, exame realizado através da palpação digital da glândula através do canal anal.
Sua posição envolvendo a uretra prostática é fundamental para a sintomatologia associada às afeções da glândula, que acabam por dificultar o esvaziamento da bexiga.
A próstata é um órgão glandular que pertence ao sistema genitor masculino. Sua função é predominantemente reprodutora, através da produção do líquido prostático, que é um componente importante do líquido seminal, responsável por carregar espermatozoides até o órgão genitor feminino.
O líquido prostático corresponde a cerca de 20% do líquido seminal e sua função primordial é impedir que esse liquido coagule, mantendo-o liquefeito, o que permite sua emissão durante o processo de ejaculação. O maior componente do liquido seminal, no entanto, provem das vesículas seminais e chega a próstata através dos ductos ejaculatórios, que atravessam o interior da glândula até terminar a uretra prostática.
Outras funções da glândula prostática são ligadas ao sistema endócrino e urinário. Hoje sabemos que cerca de 90% da testosterona que chega até a próstata é convertida em DHT (di-hidrotestosterona), um dos principais hormônios responsáveis pelo desenvolvimento de caracteres sexuais masculinos.
Localizada abaixo da bexiga e envolvendo a uretra, a próstata desempenha sua função no controle do esvaziamento urinário através do seu estroma muscular e do esfíncter interno, situado em grande medida na uretra prostática.
Assim como a maioria dos tipos de tumores malignos, a causa dos tumores prostáticos não é totalmente conhecida. Sabemos hoje que existem fatores que favorecem o seu aparecimento, no entanto, o exato mecanismo e as reais chances de seu aparecimento ainda são objeto de estudo.
Grosseiramente, tumores malignos são agregados de células que perdem o controle sobre sua multiplicação. O controle da multiplicação celular está a cargo do material genético ativo no núcleo da célula, denominado DNA. Hoje classificamos genes relacionados a este processo e que estão ligados a formação de tumores em dois tipos: os proto-oncogenes e os genes supressores tumorais. Os primeiros são genes que, quando ativados, promovem a divisão celular, enquanto os últimos funcionam bloqueando a divisão celular ou destruindo células com material genético defeituoso.
Quando esses tumores sofrem mutações que causem descontrole e amplificação, no caso do proto-oncogenes, ou disfunção, no caso dos supressores, existe um ambiente propício para a formação de tumores malignos.
Algumas dessas mutações podem ser transmitidas de forma hereditária, elevando o risco de câncer em pacientes com histórico de câncer na família, no entanto, a vasta maioria ocorre de forma esporádica, como consequência do envelhecimento do aparato celular.
Existem inúmeras mutações em proto-oncogenes e genes supressores tumorais descritas, e, para complicar ainda mais, a vasta maioria dos tumores necessitam que ocorram várias mutações e genes diferentes para seu desenvolvimento.
Os principais genes ligados a formação do câncer de próstata são o RNAsel, BRAC1 e 2, MSH2, MLH1 e HOXB13.
Fatores de risco:
• Idade
A incidência do câncer de próstata aumenta com a idade. Casos em pacientes com menos de 40 anos são raríssimos, enquanto em pacientes com mais de 80 anos pode chegar a cerca de 60%. Hoje sabemos que a ocorrência deste tumor se torna relevante após 50 anos, e é baseado nisso que recomendamos o rastreamento a partir desta idade.
• Raça/ etnia
Com relação a raça/etnia, temos que o câncer de próstata ocorre com maior frequência e em idade mais precoce em negros. Por outro lado, asiáticos apresentam um risco menor de desenvolvimento da doença. As causas para isso ainda não estão claras, mas podem envolver herança genética e hábitos.
• Histórico familiar
A presença de histórico familiar de câncer de próstata eleva o risco do aparecimento da doença. Isso é mais importante quando a doença se apresenta em familiares de primeiro grau, como pais e irmãos, e com idade precoce.
Existem algumas mutações genéticas que reconhecidamente predispõem ao aparecimento do câncer de próstata, no entanto, apenas um pequeno percentual de pacientes apresenta tumores relacionados a estas alterações. Nestes casos, os tumores ocorrem de forma mais precoce e comumente podemos identificar um grande número de casos numa mesma família, caracterizando a forma hereditária do tumor.
• Geografia
O câncer de próstata é mais comum no hemisfério norte e em países ocidentais. Países em que o rastreamento é realizado de forma sistemática também apresentam mais casos da doença. Continentes como a Ásia e África tem uma incidência menor de câncer prostático. As razões para estas diferenças ainda são discutidas, mas está claro que fatores ambientais, como dieta e estilo de vida tem influência importante.
Podemos dizer que existem alguns tipos de câncer de próstata que se comportam de maneira hereditária, mas que estes não são a maioria dos tumores somando apenas cerca de 5% dos casos. Atualmente, existem algumas mutações em genes específicos que estão associados a tumores prostáticos, os principais são: RNAsel, BRAC1 e 2, MSH2, MLH1 e HOXB13.
Nos casos onde não existe uma mutação genética específica, ainda assim existe elevação do risco em familiar especialmente associado a casos em familiares de primeiro grau e que apresentam tumor em idade precoce.
Vasectomia é o procedimento no qual os ductos deferentes, que carreiam os espermatozoides até o canal da uretra, são ligados e cortados para fins contraceptivos. A relação entre vasectomia e câncer de próstata tem sido estudada com resultados contraditórios durantes as últimas décadas. Estudos dotados de falhas metodológicas inicialmente sugeriam que pudesse haver um aumento do risco de câncer prostático com o procedimento, no entanto, estudos mais recentes e com maior qualidade técnica não demonstraram os mesmos resultados.
Desta maneira, com os dados disponíveis hoje, podemos afirmar que não há evidências de que a vasectomia aumente o risco de câncer de próstata.
O câncer prostático ocorre predominantemente na zona periférica da glândula prostática, próximo ao reto, porém distante do canal uretral. Devido a essa localização no interior da glândula, os tumores demoram a causar prejuízo na passagem de urina pelo canal, o que acaba ocorrendo apenas em estágios já avançados da doença.
No momento em que o tumor atinge essa região, os sintomas, chamados locais, mais comuns são: redução do jato urinário, esforço miccional, sangramento na urina e incontinência urinária. Quando isso acontece, o toque retal é o exame inicial para diferenciar o aumento prostático benigno do câncer de próstata. Alterações na consistência da próstata e associação com os níveis de PSA irão direcionar a investigação. O diagnóstico de câncer de próstata só pode ser obtido através da biopsia.
Outros sintomas locais menos comuns estão associados a alterações causas na pelve, tais como constipação e sangramento retal, compressão de estruturas vasculares, com inchaço de pernas e bolsa escrotal, e compressão dos ureteres, que pode levar a redução do volume de urina, dor lombar e insuficiência renal.
Além dos sintomas locais, existem sintomas que estão associados com a doença, de forma sistêmica, tais como emagrecimento, cansaço causado por anemia, diminuição de apetite, dores musculares e articulares. Outros sintomas podem ser causados pela disseminação do tumor para gânglios linfáticos ou órgãos à distância. Nestes casos podem ocorrer aparecimento de nódulos na região da virilha e dor óssea, mais comum na região da bacia e lombar.
Atualmente as recomendações para se realizar o exame de próstata variam muito dependendo do órgão técnico e do ponto de vista avaliado. Exames de rastreamento são constantemente avaliados com relação ao custo-efetividade por órgãos governamentais, e recentemente um órgão governamental chamado USPSTF (United States Preventive Service Task Force) causou grande alarde ao se pronunciar contrário a realização do rastreamento anual com PSA e toque retal. Este órgão se baseou em estudos com graves falhas metodológicas para afirmar que o rastreamento em pacientes assintomáticos não seria custo-efetivo.
Por outro lado, órgãos médicos ligados a assistência a pacientes com câncer, como as sociedades americana e europeia de urologia (AUA e EAU), bem como associação americana de oncologia clínica (ASCO), ainda recomendam o rastreamento para o câncer de próstata.
Existe um reconhecimento pela quase totalidade de entidades médicas que o rastreamento, da forma que era realizado, incluindo pacientes idosos e de forma indiscriminada levou ao diagnóstico de tumores indolentes cujos tratamentos pouco acrescentou a qualidade e duração de vida de pacientes. Com isso tem-se buscado intensamente melhorar o rastreamento visando reduzir o número de biópsias e diagnósticos desnecessários.
O toque retal consiste da palpação digital da próstata através do orifício anal. Sua realização é extremamente rápida e indolor, durando menos que 15 segundos. Com esse exame podemos avaliar a superfície da próstata quanto a nódulos e áreas suspeitas.
Apesar da consagração do PSA como método principal de rastreio para o câncer prostático, cerca de 10% dos tumores prostáticos são diagnosticados apenas com o toque retal, ou seja, com a dosagem do
PSA dentro do limite da normalidade.
Além disso, o toque retal contribui com informações fundamentais para a avaliação de outras patologias, como a hiperplasia prostática benigna, inflamação da glândula prostática e tumores do reto.
O antígeno prostático especifico, conhecido como PSA, é uma proteína produzida na glândula prostática, que tem como função auxiliar na liquefação do ejaculado. Como o nome já diz, este marcador é bastante especifico para a próstata e por isso seus níveis se elevam em patologias que acometem a glândula.
O câncer de próstata é uma das principais patologias que alteram as dosagens do PSA. A destruição das células prostáticas ocasionadas pela proliferação do tumor faz com que o PSA armazenado seja liberado na corrente sanguínea, elevando os níveis deste marcador.
Apesar dessa relação com o câncer de próstata, o PSA não é especifico para a doença e sua elevação pode ocorrer em outras doenças, como a hiperplasia prostática e inflamações da glândula. Por esse motivo, é necessária a realização de biópsia para o diagnóstico correto do câncer de próstata.
O PSA é um excelente marcador para afecções prostáticas, pois é produzido em quantidades mínimas fora da glândula, no entanto, não é um marcador específico para câncer de próstata. Várias patologias prostáticas podem elevar esse marcador, tais como: Hiperplasia prostática benigna e Prostatites.
A recomendação para realização do PSA todo ano visa diagnosticar o câncer de próstata ainda em uma fase assintomática, quando os tratamentos apresentam uma taxa de cura elevada. Tipicamente, o câncer de próstata apresenta sintomas apenas em uma fase tardia, muitas vezes já incurável, e é por isso que foi criado o rastreamento anual.
Dados mostram queda da mortalidade relacionada ao câncer de próstata após a instituição do rastreamento, e um estudo europeu que avaliou diretamente esta metodologia comprovou a melhora dos resultados do tratamento relacionado ao exame periódico.
Ainda existe alguma controvérsia quanto a utilização do PSA anual como método de rastreio populacional. Isso ocorre devido ao elevado custo da realização de PSA, biópsias e tratamentos de alto custo, como radioterapia. Além disso, é conhecido que alguns tumores prostáticos têm evolução lenta e seu diagnóstico acaba levando a tratamentos desnecessários. Para evitar este tipo de situação, uma series de novos testes têm sido utilizados para definir tumores de risco elevado, tais como ressonância magnética multinuclear.
Biópsia prostáticas podem ser feitas de diversas maneiras. A forma mais comum é a biopsia transretal guiada por ultrassonografia. Esta modalidade é realizada através do reto, utilizando a imagem ultrassonográfica para guiar as biópsias.
Ao contrário de outras modalidades, as biopsias, na maioria das vezes, não são direcionadas a regiões específicas. Ao invés disso, é realizada uma amostragem aleatória da glândula que é dividida em 6 áreas, o que é denominado biópsia sextante. Atualmente a recomendação é que sejam realizadas ao menos duas biopsias de cada uma destas áreas, com fragmentos adicionais de áreas consideradas suspeitas.
Outras modalidades de biópsias menos utilizadas são as transuretrais e transperineais.
Pacientes que serão submetidos à cirurgia para tratamento de câncer de próstata devem realizar exames pré-operatórios para duas finalidades: a avaliação de risco cirúrgico e estadiamento da doença.
A avaliação pré-operatória deve ser realizada em todos os pacientes que serão submetidos a cirurgias oncológicas de grande porte. O objetivo é estratificar o risco de eventos adversos, em especial de natureza cardiovascular, durante e após o procedimento. Para esse objetivo devem ser solicitados minimamente: eletrocardiograma, exames laboratoriais básicos (como hemograma, avaliação da coagulação, função do rim e glicemia) e radiografia de tórax. Uma consulta com clínico ou cardiologista é fundamental, pois podem ser necessários exames adicionais, como Ecocardiograma ou prova de esforço.
O Estadiamento da doença diz respeito a avaliação da extensão do acometimento tumoral. No caso do câncer de próstata são necessários além da biópsia, a realização da dosagem de PSA e toque retal. Quando o PSA é maior do que 10, o toque retal mostra doença localmente fora da próstata ou a biopsia mostra um Escore de Gleason maior do que 7, estão indicados exames adicionais para avaliar a presença de doença em gânglios linfáticos ou sítios metastáticos. Nestas situações estão indicadas a realização de cintilografia óssea e Tomografia Computadorizada de abdome e pelve.
A ressonância nuclear magnética foi incorporada recentemente no arsenal diagnóstico do câncer de próstata. Inicialmente era indicada em casos de biópsia negativa para tumor com PSA mantendo trajetória de elevação. Hoje, com o avançar da tecnologia, a RNM vem ocupando um espaço cada vez maior e já pode ser utilizada antes da realização de biópsia transretal para guiar a mesma.
Outra indicação para a ressonância reside na avaliação de extensão extracapsular, especialmente próximo da região onde passam os nervos responsáveis pela função sexual. Nesta situação o exame pode ainda auxiliar na identificação de linfonodos suspeitos na região pélvica, assim como invasão de órgãos adjacentes como bexiga e reto.
Sim, o câncer de próstata é plenamente curável se diagnosticado precocemente. Quando localizado no interior da glândula, a ressecção cirúrgica da mesma é curativa em 70% dos casos, e mesmo em casos em que o tumor já se estendeu para fora da mesma, a radioterapia ainda oferece uma oportunidade de resgate.
Existem ainda modalidades não cirúrgicas ainda com perspectiva de cura, como a radioterapia externa, braquiterapia, crioablação e HIFU. Todas estas modalidades são capazes de curar o câncer de próstata e podem ser indicadas em casos específicos.
Quanto ao tratamento farmacológico, com cápsulas ou infusões, estes têm o objetivo de controlar a doença. Não há, até hoje, medicações capazes de curar o câncer de próstata.
Existem diversos tipos de tratamento para o câncer de próstata, cada um empregado em uma fase da doença e com objetivos específicos. Podemos dividi-los de diferentes formas. Aqui faremos um apanhado superficial das principais modalidades: a cirúrgica, a radioterápica, ablativas, endócrinas, quimioterápicas e imunológicas.
O principal tratamento curativo empregado nos dias de hoje consiste da retirada da próstata e vesículas seminais, e é denominado prostatectomia radical. Pode ser realizado nas modalidades aberta, laparoscópica ou robótica, a última oferecendo benefícios no pós-operatório e preservação de potência sexual e continência urinária. Outras modalidades não curativas são: a ressecção transuretral de próstata, usada para desobstruir a uretra em casos onde o tumor não pode mais ser retirado inteiramente, e orquiectomia bilateral, que visa acabar com a produção testicular de testosterona que é um hormônio nutridor do tumor. Esta última é raramente utilizada nos dias de hoje.
A radioterapia externa e braquiterapia são usadas há um longo tempo como tratamento curativo no câncer de próstata. Sua utilização é favorecida em tumores de baixo risco e pacientes com risco cirúrgico elevado. A técnicas ablativas foram descritas recentemente e compartilham do benefício em pacientes com risco cirúrgico elevado. O objetivo é destruir o tecido prostático com diferentes energias. As mais populares são: a crioablação e HIFU. Hoje algumas dessas técnicas têm sido utilizadas experimentalmente para ablação de nódulos tumorais isolados, denominado terapia focal, mas os resultados ainda não são conhecidos.
Terapias endócrinas consistem em bloqueadores da produção ou ação da testosterona. Este hormônio atua sobre as células tumorais permitindo sua proliferação.
A ascensão do PSA em vigência de bloqueio hormonal indica que o tumor está voltando a atividade mesmo com a utilização das medicações. Neste cenário existem algumas opções de tratamento, visando a retomada do controle da doença. As principais alternativas são a quimioterapia e os novos agentes hormonais. Estudos mostram que a utilização de quimioterápicos como o Docetaxel e o Cabazitaxel são efetivos na melhoria dos resultados do tratamento de pacientes com doença hormônio refratária.
Outras opções são os novos agentes hormonais desenvolvidos recentemente para maximizar o bloqueio da ação da testosterona. A Abiraterona é um bloqueador da síntese de hormônios que tem como finalidade reduzir ainda mais a produção destes hormônios. A Enzalutamida já atua como bloqueador do receptor hormonal, fazendo com que as células tumorais não respondam ao estimulo pela testosterona. Estas duas drogas representam a última geração no tratamento de câncer de próstata e têm apresentado ótimas respostas no contexto da falha dos “bloqueadores” de ação central, como Leuprolide, Goserelina e Degarelix.
Ainda é importante afirmar que existem modalidades de imunoterapia que atuam também nessa etapa da evolução da doença. O agente mais conhecido é denominado Sipuleucel-t, e consiste da utilização de células dendríticas sensibilizadas pelo contato com o tumor prostático. Sua aplicação e bastante complexa, o que torna sua utilização um tanto restrita.
A vigilância ativa consiste do acompanhamento dos tumores de próstata de baixo risco, utilizando métodos de imagem e re-biópsias. Hoje sabemos que existe um grupo de tumores prostáticos que apresenta um risco muito baixo de progressão e de produzir metástase. Neste grupo de pacientes o acompanhamento pode ser realizado com segurança, guardando as intervenções para o caso de avanço da doença, seja em métodos de imagem ou biópsias.
Este método tem se demonstrado bastante seguro em lugares onde os protocolos de acompanhamento são seguidos de forma adequada, portanto este tipo de abordagem depende muito de uma postura ativa do paciente em realizar os exames e consultas com a periodicidade necessária.
Existem diversos critérios utilizados por diferentes grupos mundo afora, sendo os mais conhecidos:
• PSA < 10;
• Gleason 6 em menos de 3 fragmentos com < 50% de acometimento;
• Toque retal sem evidência de doença.
Ambos os tratamentos são bastante efetivos no tratamento do câncer de próstata localizado na glândula. Não existem estudos de boa qualidade comparando as duas técnicas no que se refere as taxas de cura, apenas estudos superficiais mostrando resultados favoráveis à cirurgia, mas que não são definitivos.
Dessa maneira, quando comparamos as técnicas, usamos outros critérios para definir o tratamento. As principais vantagens da cirurgia residem na avaliação da glândula inteira através de exame histopatológico e a oportunidade para radioterapia associada no pós-operatório. Outra enorme vantagem está no fato de que o PSA tende a zero no pós-operatório, favorecendo um diagnóstico mais preciso de recorrência. No caso da radioterapia, como o PSA não zera, a avaliação de recorrência se torna muito mais complexa.
As desvantagens do tratamento cirúrgico estão associadas à necessidade do procedimento operatório, sendo necessária que o paciente esteja apto. Outras desvantagens estão associadas a maiores taxas de disfunção erétil e incontinência urinária. Hoje com as técnicas modernas, a preservação destas duas funções pode chega a 70% e 99%, respectivamente. No entanto, ainda assim serão inferiores as taxas observadas com a radioterapia.
É importante ainda destacar que a radioterapia também apresenta risco. As taxas de incontinência e disfunção erétil, apesar de menores, ainda são perceptíveis e somam-se a estas complicações as alterações actínicas e tumores secundários que surgem em decorrência da lesão pela radiação em órgãos próximos como o reto e bexiga.
As técnicas de ablação têm por princípio a destruição global do tecido glandular utilizando diferentes tipos de energia. Hoje as formas mais conhecidas são a crioablação e a HIFU (High Intensity Focused Ultrasound). Esses métodos já são empregados como resultados comprovados especialmente em pacientes que apresentam retorno da doença após tratamento com radioterapia. Em casos de pacientes virgens de tratamentos, encontram-se ainda em fase experimental ou aprovados, mas sem resultados de longo prazo conhecidos.
Uma tendência recente no tratamento da doença de baixo risco apoiado no recente desenvolvimento da ressonância magnética para próstata, o tratamento focal, consiste na destruição restrita a área do tumor. Ocorre que estas técnicas ainda não foram aprovadas para uso fora de estudos. O fato é que o câncer de próstata pode ser multicêntrico em cerca de 60% dos casos, dessa maneira a ablação do nódulo dominante carrega um grande risco de inefetividade.
A Hormonioterapia ou bloqueio hormonal consiste da utilização de medicamentos que reduzam drasticamente a produção de hormônios sexuais masculinos (testosterona e DHT) ou reduzam suas ações nas células tumorais. Para isso contamos com alguns tipos de fármacos: os análogos e antagonistas de GNRH que inibem a produção hipofisária de moléculas que levam a produção destes hormônios; os bloqueadores periféricos, que atuam sobre os receptores hormonais das células tumorais; o cetoconazol, que atua diretamente nas sínteses desses hormônios e os derivados de estrogênio que também atuam através da inibição hipofisária.
No passado a quimioterapia era reservada apenas para pacientes que se tornavam refratários ao bloqueio hormonal como tratamento inicial, mas isso tem mudado. Estudos recentes têm demonstrados que a quimioterapia é melhor indicada no momento do diagnóstico de doença metastática, ou fora da próstata. Nesses casos estudos têm demonstrado que a introdução de quimioterapia com Docetaxel associada com bloqueio hormonal leva a resultados melhores do que o bloqueio associado. Há ainda evidência apontando para melhoria na qualidade de vida de pacientes submetidos à quimioterapia precoce.
Hoje existem várias opções de tratamento disponíveis, incluindo: quimioterapia, imunoterapia e os agentes hormonais mais recentes. A escolha do tratamento deve ser feita em conjunto com o oncologista. Embora a tendência atual seja utilizar os agentes hormonais, ainda existe espaço para as demais terapias em casos específicos.
Procedimentos curativos
Hoje existem quatro tipos de cirurgias curativas para o câncer de próstata: a cirurgia convencional aberta, a cirurgia perineal, a cirurgia laparoscópica e a cirurgia robótica.
• Cirurgia Aberta
Realizada através de corte longitudinal em abdome abaixo da cicatriz umbilical, este método foi consagrado pelos seus elevados índices de cura. No entanto, assim como demais procedimentos realizados através de incisões abertas, a prostatectomia retropúbica convencional está relacionada a um longo período de recuperação e elevado risco de transfusão sanguínea. Quando comparado à cirurgia robótica, hoje considerada como método ideal, apresenta ainda uma recuperação mais lenta da continência e taxas de preservação da potência sexual menores.
• Cirurgia Perineal
Este procedimento é realizado por corte na região do períneo, entre a bolsa escrotal e ânus. Apesar de factível, é um procedimento complexo que não permite a realização de ressecção de gânglios linfáticos. Além disso, expõem o paciente a complicações associadas à dissecção muito próxima ao esfíncter anal, como incontinência fecal. Hoje é encarada como método de exceção na maioria dos centros de referência.
• Cirurgia Laparoscópica
Realizada através de cortes pequenos no abdome, com a inserção de câmera e instrumentos longos, com o objetivo de reduzir o impacto de incisão aberta. Apresenta resultados oncológicos comparáveis à cirurgia convencional, mas com menor dor no pós-operatório, além de menores taxas de transfusão sanguínea. Dados relativos a parte funcional, como recuperação da continência urinária e potência sexual são comparáveis.
• Cirurgia Robótica
A prostatectomia robótica é uma forma de cirurgia laparoscópica assistida por um robô, portanto é também realizada através de pequenos cortes. No entanto, quando comparada a laparoscopia convencional e aberta, a introdução da tecnologia robótica permite dissecção mais delicada, com incisões mínimas e menor sangramento. Esta tecnologia tem demonstrado ainda melhores resultados funcionais, com melhor tempo de permanência da sonda uretral, continência urinária precoce e melhores taxas de preservação da potência sexual.
Procedimentos paliativos
Os procedimentos paliativos incluem aqueles que visam o controle da doença, mas não possuem potencial para cura da mesma. Incluem: orquiectomia bilateral, que é uma forma de bloqueio hormonal; ressecções endoscópicas de próstata, visando desobstrução de tumores avançados e, derivações urinárias, no caso de obstruções de ureter.